sábado, 23 de junho de 2007

A pedra na nossa evolução

Diálogo entre dois porteiros do meu prédio, enquanto ouviam um pastor pregando em uma rádio evangélica qualquer:
- O pastor é um enviado de Deus. Tem de ser respeitado. - É verdade. O que ele fala é pro nosso bem. Ele tem um dom dado por Deus pra pregar a palavra do Senhor. E os dois arrematam a conversa com um sonoro e uníssono "glória a Deus!".

Eu estava esperando o elevador, mas depois de tamanho diálogo resolvi que era melhor sair dali rapidinho, antes que eles me colocassem na roda de Deus. Subi sete andares de escada correndo. Acho que desde de os 16, 17 anos que eu não fazia isso. Mas apesar de faltar fôlego sobrou-me algumas considerações sobre religião.

Eu fui criado na Igreja Católica, sou batizado e fiz primeira comunhão - por imposição de minha mãe. Mas desde cedo eu aprendi a questionar tudo o que me era dito sobre qualquer asssunto - influência de papai. Com a religião não podia ser diferente. Eu me perguntava como as pessoas nunca se indagavam sobre as estórias da bíblia. Um anjo que anuncia o nascimento de uma criança numa mulher imaculada, virgem; um Senhor que destrói cidades, inunda o mundo; homens de 900 anos; mulheres estéreis que depois dos 60 anos tinham filhos etc. Como meu pai dizia que todo o filme era de mentirinha, tudo não passava de fantasia, logo deduzi que a bíblia também era uma fantasia.

Essa certeza veio de forma absoluta quando entrei para a faculdade de comunicação. A maioria de meus professores era socialista/comunista e não tinha religião. Ou se tinha guardava-na embutida em suas convicções vermelhas (hehehehe). Não sou socialista. Nunca fui. Mas respeito quem é. Lá na faculdade fomos obrigados a pensar, a nos posicionar. Então, discutir sobre qual é a melhor maneira de ajudar o mundo a se desenvolver é muito mais importante que aceitar piamente o que um homem, auto-investido como pastor de igreja, fala. Porque quem tem pastor é ovelha, porra.

Nós, seres humanos, conquistamos um nível de discernimento e capacidade cognitiva assustadores para o pouco tempo (geológicamente falando) em que estamos na Terra. Temos uma grande adaptabilidade para as mais diversas situações: do extremo calor ao frio cortante; habitamos em desertos, picos nevados e transformamos a natureza adversa desses lugares em nossos lares. Temos nos desenvolvido tecnologicamente também. E muito rápido. Isso só é possível pelo nível intelectual que alcançamos. O que me leva a dizer: conhecimento é arma.

Grandes intelectuais professam alguma religião, outros também grandes são agnósticos, ateus e que tais. O fato é que aqueles jamais deixaram que a religião decidisse, norteasse o rumo que tomaram em suas vidas. Se Deus escrevesse certo por linhas tortas os dinossauros, hoje, estariam lançando sondas espaciais para exploração de Marte e não nós. O conhecimento adquirido nos livros e bancos escolares os levou para este nível de pensamento. São esses homens que transmitem o que de melhor nós podemos oferecer para as novas gerações: informação. Dogmas milenares já não deveriam fazer parte de nossa civilização. Se chegamos onde chegamos foi porque combatemos esses dogmas através da história. Nossos cientistas foram vítimas do pensamento truculento das religiões, ao longo das eras. Foram queimados, assassinados em nome de Deus. O mesmo Deus que ora prega amor, ora prega violência. O fanatismo religioso é resultado de ignorância, burrice. Ninguém que tenha estudo pode aceitar ser mantido numa coleira asfixiante chamada religião. Em dosses homeopáticas até chega a ser aceitável; não vejo mal nenhum em acreditar num Grande Arquiteto do Universo, até porque alguém ou algo deve ter criado o universo. Mas deixar-se ser instrumento de um punhado de oportunistas ávidos por poder e dinheiro que se travestem de porta-vozes do Senhor - em qualquer religião, que isso fique claro - é inadmissível.

Nós continuamos a evoluir apesar das religiões.

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